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Elon Musk e a rede de transporte subterrâneo: será realmente viável?

Atualizado: 25 de set. de 2018

Elon Musk desperta sentimentos paradoxais nos reles mortais. Enquanto é aclamado por suas realizações magníficas na Tesla, SpaceX, entre outras, é também alvo de críticas pela gestão financeira da montadora, pela dificuldade de cumprir calendários e pelo jeito centralizador de gerir seus negócios. Um fato, porém, ninguém pode negar: Musk pensa além, bem além das possibilidades.


Uma de suas empreitadas atuais começou com um tweet que parecia despretensioso, em dezembro de 2016. O multi-empreendedor reclamava do trânsito de Los Angeles, onde mora, e dizia que iria começar uma nova empresa, chamada The Boring Company, para cavar túneis pela cidade, criando uma nova forma de transporte e, consequentemente, aliviando as congestionadas ruas e rodovias de LA.


Muitos acharam que se tratava de uma piada. Afinal, o nome da companhia tinha um duplo sentido: bore, em inglês, é tanto cavar um túnel, quanto sinônimo de ser chato ou estar de saco cheio. Mas ali era Elon Musk escrevendo, o cara que apostou que os carros elétricos seriam o futuro do setor automotivo quando ninguém dava bola para eles; que montou uma empresa aeroespacial com capital inicial próprio e desenvolveu foguetes reutilizáveis, cortando custos em proporções inimagináveis; que criou o conceito do Hyperloop e disponibilizou para quem quisesse testá-lo e aprimorá-lo. Sim, é difícil duvidar quando Musk tem a visão de algo.


Pois bem, a Boring Company (ou Boring Co., como é mais conhecida) não só saiu do papel, como já iniciou a construção de um túnel de teste em Los Angeles, conseguiu permissão das autoridades e começou encontros com representantes de moradores para “vender” o projeto, receber feedback e ter a bênção para seguir em frente. Os desafios, porém, são enormes.


Como funciona


O projeto proposto por Musk é de uma rede de transporte subterrâneo com diversos níveis (ele diz que podem ser mais de cem!). Pedestres entrariam em mini vagões, chamados de Loops, instalados em milhares de pequenas estações na superfície e seriam levados para a rede via elevadores. Esta rede seria toda interligada, permitindo diferentes caminhos e paradas, além de ser controlada por inteligência artificial. Os Loops seriam totalmente elétricos e poderiam viajar a cerca de 240km/h. O vídeo abaixo mostra o conceito desenvolvido pela companhia.

Semana passada, dia 17/05, Elon Musk e Steve Davies – um engenheiro da SpaceX, que está liderando a Boring Co – reuniram 750 convidados em uma sinagoga de Los Angeles, localizada no coração do trânsito da cidade, para dar detalhes do projeto, tirar dúvidas e tentar angariar apoiadores para o mesmo, agora que conseguiu as licenças necessárias para construir o túnel de teste de cerca de cinco quilômetros de extensão. Musk explicou que os Loops terão capacidade para 16 pessoas e que a viagem custará U$1, mais barato que uma passagem de ônibus. O projeto inicial era de priorizar carros ao invés de pedestres (ou seja, os Loops não existiriam, os próprios veículos desceriam pelos elevadores, seriam colocados sobre “skates” gigantes e movimentados em alta velocidade pelas pistas), mas parece que as conversas com as autoridades fizeram com que isso mudasse.


A ideia agora é que os Loops sejam usados nas pistas para locomoção dentro das cidades e que estas sejam integradas às pistas entre cidades diferentes; porém, nas intermunicipais, pelas distâncias, seriam usadas a tecnologia de Hyperloop, no qual os vagões são pressurizados e viajam por túneis a vácuo, conseguindo atingir velocidades de mais de 1.000km/h.

A visão por trás da Boring Co


Mobilidade urbana é uma das preocupações do mundo atual e novas formas de transporte estão sendo pensadas por várias empresas. Os chamados “carros voadores” têm sido alvo de atenção nos últimos meses, em função especialmente do Uber, que divulgou recentemente seus planos para o UberAir, sua rede de transporte aéreo. A companhia quer lançar o serviço até 2023 nos EUA e tem planos de transportar 4 mil pessoas por hora em cada um de seus Skyports (nome dado aos locais onde os passageiros embarcarão e desembarcarão). Para isso, fechou parcerias com algumas companhias para desenvolver o conceito de eVTOLs (eletric vertical take-off and landing vehicles, nome oficial dos “carros voadores”), inclusive com a brasileira Embraer.

Outras empresas também investem pesado nesses veículos aéreos, como a chinesa EHang, a alemã Lillium e a americana/neozelandesa Kitty Hawk, de propriedade de ninguém menos que Larry Page, um dos fundadores do Google.


Elon Musk, porém, acredita que o futuro do transporte está abaixo da superfície e não nos céus. Seus argumentos contra o transporte aéreo de massa são bastante pertinentes: primeiro, ter milhares de veículos voando daria uma sensação de certo pânico, uma vez que qualquer problema com algum deles poderia fazê-los cair sobre nossas cabeças; segundo, a poluição visual, afinal se a ideia é ter 4 mil pessoas sendo transportadas por hora em apenas um skyport, imaginem quantos eVTOLs não teriam que estar voando ao mesmo tempo; terceiro, a poluição sonora, pois levantar um veículo com pessoas requer uma quantidade tremenda de força, o que ocasiona bastante barulho. Para este último, o Uber diz que as empresas parceiras estão desenvolvendo veículos-conceito que conseguirão minimizar o problema, mas o certo hoje é que um pequeno drone voando produz sons que podem incomodar.


Musk também argumenta que um sistema subterrâneo seria à prova de más condições climáticas e que o serviço não poderia ser visto, ouvido ou sentido da superfície, ou seja, não iria incomodar.

Os desafios


Viabilizar esta rede abaixo da terra não é nada fácil. O próprio Elon Musk reconhece os desafios que têm pela frente, principalmente o custo e a capacidade das máquinas de escavação. Estima-se que, na construção do metrô de Los Angeles, cada milha (cerca de 1,6km) custou U$1 bilhão. O empresário estima ser possível cortar este custo cerca de 10 vezes. Para isso, pretende fazer túneis com a metade do diâmetro do metrô e construir uma máquina capaz de cavar ao mesmo tempo em que instala a estrutura de reforço nestes túneis. Hoje, o que acontece é que as máquinas cavam e depois param para que a estrutura de sustentação seja colocada, o que atrasa bastante o trabalho e aumenta os gastos. A velocidade de escavação também precisa ser bastante aprimorada: os equipamentos atuais escavam a cerca de 0,005km/h; o objetivo é chegar a 0,5km/h, o que daria uma capacidade incrível de um quilômetro a cada duas horas.

Outro diferencial para cortar custos é fazer com que estas máquinas funcionem com baterias como as usadas na Tesla ao invés de cabos de alta voltagem, pois estes são bastante caros.


Especialistas, no entanto, acrescentam outros obstáculos. Herbert Einstein, professor do MIT, aponta para a geologia do local do projeto. Como ela varia, é possível que se encontre rochas que demandem um tipo diferente de escavação, para o qual o equipamento pode não ser suficiente; Constantine Samaras, da Canergie Mellon University, chama atenção para o desafio do sistema de transporte, incluindo os elevadores, além da questão da segurança, uma vez que túneis mais estreitos dificultarão, por exemplo, a passagem de equipes para eventuais resgates. Ambos, porém, acreditam que a iniciativa de Musk, mesmo que não dê certo do que jeito que o empresário pretende, irá trazer benefícios para a área em termos de inovações e avanços tecnológicos.


Uma curiosidade comentada na apresentação do dia 17, foi o fato de que a Boring Co está fazendo dentro de casa parte da estrutura de sustentação do túnel, usando entulho retirado das escavações para fabricar os tijolos utilizados. Eles embalam o entulho em alta pressão, adicionam um pouco de concreto e os tijolos ficam prontos. Segundo Musk, os mesmos são de extrema qualidade e podem inclusive ser vendidos por um preço baixo para serem usados na construção de moradias populares.


É melhor não duvidar


Apesar dos desafios consideráveis e de não haver uma previsão quanto a data de lançamento da rede (nem se ela vai um dia de fato se tornar realidade), não é prudente taxar o projeto de Musk como impossível. Grande parte da equipe da Boring Co é de ex ou atuais funcionários da SpaceX, que conseguiu feitos impressionantes em tecnologia aeroespacial; são excelentes credenciais para o projeto de transporte subterrâneo. Segundo o visionário, a tecnologia para escavação de túneis não recebeu tanta atenção nos últimos anos e, por isso, ele está usando seus melhores profissionais para aplicar técnicas usadas em engenharia espacial para atacar o problema.

Os investidores, como sempre, parecem acreditar em Elon Musk. Em abril, a Boring Co levantou U$113 milhões de funding. Os fãs estão ainda mais empolgados. No final do ano passado, a empresa vendeu 50.000 bonés com a marca – levantando cerca de U$1 milhão – e, pasmem, 20.000 unidades de um lança-chamas (isso mesmo, um lança-chamas!) personalizado, cujo valor foi de U$500 a unidade. Ou seja, só com esses dois itens de merchandising foram U$11 milhões de receita. Nada mal para uma companhia que ainda engatinha, mas que de chata não tem nada.

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