Os altos custos para se ter um carro próprio e o crescente congestionamento nas grandes cidades estão fazendo com que as pessoas busquem novas alternativas para se locomover, a maioria delas a um botão de distância para serem acessadas. A facilidade de escolher a maneira de ir de um local a outro usando apenas o smartphone tem nome e um mercado promissor, que está apenas no início: Mobility as a Service (MaaS) ou Mobilidade como um Serviço, em português. A ideia é justamente que se pague apenas pelos serviços utilizados para locomoção ao invés de comprar e manter um carro, por exemplo. De acordo com um relatório da consultoria Accenture, o mercado de MaaS vai atingir receitas de US$1,4 trilhão em 2030.
De olho em todo este potencial, algumas startups se movimentam, especialmente os aplicativos de transporte. O Uber começou como uma alternativa aos táxis, mas quer transformar-se em multimodalidade. Para isso, adquiriu a Jump Bikes em abril e agora oferece também a opção de locação de bicicletas elétricas em algumas cidades americanas. Este ano deve expandir a oferta para Europa. No mesmo mês, a companhia anunciou mais dois serviços: o Uber Rent, em São Francisco, em uma parceria com a empresa Getaround, na qual usuários poderão alugar carros de terceiros pelo aplicativo; e outra parceria com a Masabi, que vende bilhetes de transporte público, como ônibus, metrô e trem, para que os mesmos possam ser comercializados também pelo app. A Masabi tem operações nos EUA, Europa e Austrália. Para finalizar, semana passada, o Uber fechou um acordo com a Lime, uma das líderes do mercado de patinetes elétricos, e, nos próximos meses, os patinetes também estarão à disposição no aplicativo. Ou seja, em breve será possível optar entre o tradicional serviço de táxi, comprar tickets de transporte público ou alugar bicicletas, patinetes e carros, tudo com uma única plataforma. E a empresa ainda é uma das maiores investidoras em veículos voadores – mas isso só deve se tornar realidade em meados da próxima década.
Os rivais do Uber, porém, não querem ficar para trás. A Lyft, que opera somente nos EUA, anunciou no início do mês a compra da Motivate, a maior empresa de compartilhamento de bicicletas elétricas do país, e irá oferecê-las em seu app. Além disso, a Lyft entrou com um pedido junto à Prefeitura de São Francisco para poder operar um serviço de patinetes elétricos na cidade, o que mostra sua intenção de entrar neste mercado também. Na Ásia, a chinesa Didi Chuxing passou a oferecer, em janeiro, opção para locação de bicicletas e integrou serviços públicos, como ônibus, na sua plataforma, mas o usuário não consegue comprar bilhetes para usá-los, apenas saber sobre valores e itinerários para planejar sua locomoção. Em Cingapura, a Grab, líder no Sudeste Asiático, seguiu caminho parecido e agora seus clientes podem locar bicicletas e patinetes elétricos.
A iniciativa de ter várias formas de transporte em um só local, no entanto, teve como pioneira uma companhia não muita conhecida internacionalmente. Desde 2016, em Helsinki, na Finlândia, o usuário do aplicativo Whim pode optar por dois pacotes de mensalidades fixas: por €49 ele tem acesso a ônibus e bicicletas de forma ilimitada, além de táxis e aluguel de carros com descontos; por €499, o acesso é ilimitado para todas as opções, menos o táxi, cujo limite de cada corrida é de 5km. O usuário pode ainda optar por usar o app de graça, pagando apenas pelos serviços que utilizar. O sucesso fez o Whim expandir e agora ele pode ser encontrado em cidades da Inglaterra, Bélgica e Holanda.
No Brasil, a 99 ofereceu durante o Carnaval um serviço integrado entre corridas no app e viagens de metrô no Rio de Janeiro. A empresa diz estar em contato para ampliar a oferta não só na cidade, mas também em São Paulo e Curitiba. Com a MaaS tornando-se tendência mundial, é inevitável que em breve esta integração entre diferentes tipos de transporte também seja adotada oficialmente por aqui.
*Texto publicado no Jornal do Brasil, em 18/07/2018
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