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O mercado de smartphones está saturado?

Logo no primeiro dia útil do ano, a Apple comunicou que sua receita no último trimestre de 2018 será consideravelmente abaixo das expectativas, derrubando as ações da companhia e a Bolsa de Valores nos EUA. Menos de uma semana depois, Samsung e LG também divulgaram números bem menores que o esperado no mesmo período. Por trás dessas notícias, um fato em comum: o mercado de smartphones, pela primeira vez, teve um ano de queda nas vendas, sinal de que o mesmo parece próximo da saturação.


A intensidade desta queda varia de acordo com a empresa que faz a análise. A Canalys e a Counterpoint falam em 1%; a IDC e a TrendForce em 3%. Seja qual for o percentual, o motivo primordial para o declínio é a China, o maior mercado do mundo. De acordo com a CAICT, uma agência governamental chinesa, o volume de smartphones produzidos e enviados ao país caiu 15,5% ano passado, em função de uma economia em ritmo cada vez mais devagar, uma moeda desvalorizada em relação ao dólar e as tensões comerciais com os americanos.


As baixas vendas de iPhone na China, aliás, foram a principal justificativa de Tim Cook, CEO da Apple, para diminuir a estimativa de receita da empresa no quarto trimestre de 2018 (entre US$89 bilhões e US$93 bilhões para US$84 bilhões). Porém, este não foi o único motivo. Em outros mercados estabelecidos a companhia também tem encontrado dificuldades, pelo fato dos novos modelos serem caros e apresentarem poucas inovações em relação aos anteriores, o que tem feito com que os consumidores demorem cada vez mais para troca-los. Na Europa, por exemplo, o tempo médio que uma pessoa fica com um aparelho passou de 26 meses em 2010 para 39 meses atualmente. Nos EUA, dois anos em 2014 para mais de três anos hoje em dia. Outras categorias - como o Watch, iPad e serviços, por exemplo – combinadas tiveram crescimento de 19% no ano, o que mostra a grande dependência que a Apple tem em relação ao iPhone. Por isso, a saturação de mercados estabelecidos e a dificuldade de ganhar espaço em países emergentes, por conta do alto valor do produto, justificam o fato do valor de mercado da companhia ter caído abaixo de US$700 bilhões apenas alguns meses após atingir a marca histórica de US$1 trilhão.


Samsung e LG não dependem tanto de apenas um produto como a Apple, mas o declínio no mercado de smartphones também teve consequências nas duas empresas. A primeira divulgou um lucro operacional no quarto trimestre de 2018 28,7% abaixo do ano anterior e 18,2% abaixo das expectativas dos analistas. Além de perder market share nos smartphones, a companhia também culpou a fraca demanda em seu negócio de chips de memória. Já a LG anunciou uma redução de incríveis 80% nos lucros trimestrais em relação ao esperado.

Na contramão estão justamente as empresas chinesas. A Huawei teve um excelente 2018 – apesar da pressão política dos EUA e aliados -, com mais de 200 milhões de dispositivos vendidos (30% a mais que o ano anterior), ultrapassando a Apple e tornando-se a segunda maior em participação no mercado global de smartphones, atrás apenas da Samsung (14,6% x 20,3%, de acordo com a IDC). Xiaomi, Vivo e Oppo também tiveram destaque. Por terem produtos de boa qualidade e preços bem mais em conta, as companhias da China têm caminho aberto para dominar mercados ainda não saturados, como Índia, África e América Latina, onde bilhões de pessoas não possuem um aparelho. A Huawei, inclusive, tem uma meta ambiciosa de ser a número um do mundo em vendas no final de 2019.


Para este ano, as expectativas ainda estão incertas, com alguns analistas falando em continuação do declínio e outros prevendo um leve crescimento. Porém, uma retomada aos anos dourados dos smartphones vai requerer inovações relevantes para os consumidores. A chegada da tecnologia 5G pode ser uma delas, assim com os dispositivos de tela dobrável. Mas ambos só devem começar a ganhar força a partir de 2020.


*Texto publicado no Jornal do Brasil em 16/01/2019

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