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Como será (em teoria) o futuro com carros autônomos

Na semana passada, escrevi que uma das grandes revoluções do setor automotivo nas próximas décadas será a dos carros autônomos. A IHS Markit projeta que as vendas anuais destes veículos irão saltar de 51 mil unidades em 2021 para 33 milhões em 2040 em todo o mundo. De olho neste potencial, empresas de variados tamanhos e segmentos estão formando parcerias e investindo pesado, desenvolvendo carros completos ou apenas os componentes necessários para empregar a tecnologia.


Mas como será o futuro das cidades com tantos carros autônomos? Claro que é complicado tentar prever o que vai acontecer com tanta antecedência, mas especialistas no assunto têm alguns palpites. A primeira consequência deve ser a diminuição de veículos próprios. Como o custo da tecnologia ainda é alto, as empresas estão apostando em serviços de táxi em um primeiro momento. A Waymo, considerada a líder nesta corrida, já opera um serviço destes em fase de testes em Phoenix, desde 2017. A partir do final do ano o lançará oficialmente na cidade e depois em São Francisco. GM, Daimler AG, Renault-Nissan, BMW, Toyota e Ford, além das startups Drive.ai e Zoox, são outros exemplos que vão pelo mesmo caminho. Isto sem contar Uber e Lyft, companhias do setor.


Essas empresas miram um mercado, que, segundo o Goldman Sachs, gerará US$285 bilhões em 2030. Como o custo dos motoristas é o maior destas operações, tira-los da jogada é sinônimo de aumentar consideravelmente os lucros. Consequentemente, haverá uma diminuição de empregos para estes motoristas (a adoção de caminhões autônomos também deve afetar milhões de empregos, afinal, se é possível ter um caminhão rodando 24h por dia, por que pagar um caminhoneiro que, por lei, “só” pode trabalhar 12h seguidas?). Mas custos menores e maior competição significam preços mais baixos para os clientes, o que gera uma tendência de uso cada vez maior desta modalidade em detrimento do transporte público, uma vez que os valores serão parecidos. Dessa forma, é possível imaginar um aumento do congestionamento nas grandes cidades.


Estar no trânsito, porém, não será tão chato quanto hoje. Sem precisar prestar atenção no que está acontecendo, o tempo dentro dos carros poderá ser usado para descanso, lazer, trabalho e até exercício (existem conceitos de “veículos academia”, com bicicletas ergométricas dentro, por exemplo). Outra consequência dos carros autônomos vai ser a drástica diminuição das vagas, especialmente em áreas de alta densidade. Os veículos deixarão as pessoas onde elas desejam e depois podem estacionar em locais afastados. Ou ainda continuar rodando e render um dinheiro para seus donos. Em média, nossos carros ficam parados 95% do tempo. Sendo autônomos, eles podem nos deixar no trabalho e, de 9h às 17h, levar passageiros de um ponto a outro da cidade, garantindo uma renda extra.


A principal mudança, no entanto, será na segurança. Atualmente, cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem por ano no mundo em acidentes automobilísticos; 90% destes acidentes ocorrem por falha humana. Com inteligência artificial, câmeras, sensores e radares no comando, este número tende a diminuir exponencialmente. Mesmo com a tecnologia ainda em estágio inicial, os dados comprovam a afirmação: atualmente, há uma média de 3,2 acidentes a cada 1,6 milhão de quilômetros rodados em carros autônomos contra 4,2 em carros regulares.


Tudo que foi apresentado ainda está no campo da suposição. A tecnologia ainda precisa evoluir consideravelmente, principalmente em cidades com trânsito caótico, em viagens noturnas e em condições climáticas adversas (como tempestades ou neve, por exemplo). Há ainda a questão da regulamentação. Por isso, não dá para cravar quando estas mudanças de fato ocorrerão por completo. Mas com o tanto de dinheiro investido, é fato que os carros autônomos serão uma realidade, seja nos próximos 5, 10 ou 20 anos. E você, teria coragem de andar em um?



*Texto publicado no Jornal do Brasil em 08/08/2018

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