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AirBNB e a economia compartilhada total

O AirBNB é uma das startups mais valorizadas do mundo. Segundo a consultoria CBInsights, a empresa de São Francisco tem valor de mercado na casa dos US$30 bilhões, atrás apenas de Uber e da chinesa Didi Chuxing (dona da brasileira 99). É um dos maiores expoentes da chamada economia compartilhada e pretende ir além: dar aos donos dos imóveis que impulsionam seu modelo de negócios uma participação na companhia.


Antes vale uma breve explicação. Economia compartilhada é um conceito amplo, mas uma de suas definições é de que se trata de um ambiente no qual indivíduos podem alugar ou emprestar bens que não estão sendo utilizados em sua totalidade para outros, sendo monetizados por isso. No caso do AirBNB, pessoas anunciam na plataforma quartos ou imóveis disponíveis para locação por um determinado tempo e aqueles à procura de um lugar para ficar, seja em uma viagem de lazer ou trabalho, fazem as ofertas. Hoje, são mais de cinco milhões de propriedades listadas em 191 países, número bem superior ao total de quartos que as cinco maiores redes hoteleiras do mundo têm somadas.


Por conta da importância dos hosts - como são chamadas as pessoas que listam propriedades -, a startup enviou uma carta à SEC, agência reguladora do setor de valores mobiliários dos EUA, solicitando que pudesse dar a estes hosts uma participação na empresa. Diz um trecho da carta: “O AirBNB só tem sucesso quando os hosts também o têm. Acreditamos que permitir que companhias privadas possam dar participação em seus negócios a eles e outros membros da economia compartilhada beneficiaria a todos”.


Algumas regras, no entanto, precisariam mudar para que estes planos sejam concretizados. A primeira é que, atualmente, companhias privadas só podem dar participação para investidores e empregados. A ideia do AirBNB é ampliar esta possibilidade para os trabalhadores da chamada gig economy, aqueles que são remunerados por meio destas empresas, mas que não possuem vínculo empregatício. Outra regra é que a agência obriga que organizações privadas que tenham mais de dois mil acionistas ou 500 ou mais deles que não sejam investidores credenciados no país devem disponibilizar suas informações financeiras publicamente. Como a startup tem milhares de hosts, ficaria impossível atender a todos sem ter que listar a empresa na Bolsa de Valores. Há ainda o fato de que a plataforma está presente em 81 mil cidades de diversos países, ou seja, controlar a participação acionária de estrangeiros em uma empresa americana seria algo bastante complicado de ser feito.


O AirBNB, no entanto, não foi a primeira startup a pensar nisso. Ano passado, o próprio Uber teve reuniões com a SEC para verificar a possibilidade de dar participações a alguns de seus motoristas, algo que, pelo menos até agora, não foi para frente. Outro aplicativo de transportes, chamado Juno, surgiu nos EUA prometendo a mesma coisa como uma forma de atrair motoristas. Porém, em pouco tempo a companhia foi vendida e o acordo foi quebrado, o que resultou, inclusive, em processos na Justiça.


Por conta destas amarras da regulação e da dificuldade de se estruturar um plano desta magnitude, ainda não está claro como seria esta distribuição de participação na empresa, quais os critérios e os percentuais, por exemplo. Porém, só de acenar com a possibilidade, o AirBNB reconhece a importância daqueles que fazem a companhia funcionar. A atitude é ainda mais significativa pelo fato de que a economia compartilhada vem passando por críticas ultimamente. Há reclamações de baixa remuneração, direitos trabalhistas desrespeitados e ausência de benefícios; dessa forma, as empresas de tecnologia que usufruem desta mão-de-obra são apontadas como as únicas beneficiadas. Talvez colocar pelo menos parte destes trabalhadores com uma participação no sucesso destas empresas seja a solução para diminuir a pressão sobre estes modelos de negócios.



*Texto publicado no Jornal do Brasil 03/10/2018

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