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A Inteligência Artificial chega ao mundo das artes

Atualizado: 25 de set. de 2018

Quando o assunto é futuro do trabalho, muitos estudos debatem como o desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial mais capazes vai colocar em risco milhões de empregos. Estes mesmos estudos apontam as profissões que têm mais ou menos chances de serem eliminadas e, aquelas cujas atividades envolvem criatividade e imaginação, geralmente são citadas como imunes à automação. Porém, essa imunidade pode estar com os dias contados.


Edmond de Belamy

Em outubro, a Christie’s, uma das mais famosas casas de leilão de artes do mundo, fundada em 1766, vai, pela primeira vez, leiloar um quadro criado inteiramente por inteligência artificial, em sua filial de Nova York. A peça, intitulada Edmond de Belamy, é um retrato de uma pessoa (que, aliás, nunca existiu) e foi feita por um algoritmo desenvolvido pela startup francesa Obvious, cujo lema é “Criatividade não é só para humanos”.


Para conseguir gerar as imagens, a Obvious utilizou uma técnica conhecida como GAN (acrônimo para generative adversarial network ou, em português, rede geradora adversária). Para entender melhor como ela funciona, conversei com Saulo Catharino, consultor em aprendizado de máquinas e diretor da empresa Bitrental.


O GAN é formado por duas redes neurais, uma conhecida como geradora e outra como discriminadora. Neste caso dos quadros, a geradora foi ensinada a fazer desenhos aleatórios, tendo como base algumas especificações (por exemplo, como são retratos, eles precisam ter dois olhos, um nariz…). Já a discriminadora foi alimentada com uma imensa base de dados de 15 mil pinturas de retratos existentes dos séculos 14 a 20. Assim, conforme a geradora ia desenhando, a discriminadora media se estes desenhos se aproximavam daqueles da base de dados ou não. Com este feedback, a geradora foi melhorando seu desempenho, até que conseguiu criar imagens similares, chegando ao resultado final. O uso desta técnica faz com que os responsáveis pela Obvious se refiram às suas obras como parte de um novo movimento artístico, o “GAN-ismo”.


A empresa francesa não é a única a apostar em inteligência artificial criativa. Na Universidade de Rutgers, nos EUA, pesquisadores desenvolveram um algoritmo que consegue gerar cerca de mil imagens originais a cada vez que é acionado (as imagens abaixo foram geradas por este algoritmo). E para testar estes trabalhos, colocaram-nos ao lado de outras obras criadas por humanos em um site onde pessoas puderam avalia-los em termos de complexidade e inspiração. E alguns dos que foram produzidos pelo algoritmo tiveram uma avaliação superior.


Além de imagens, outras formas de expressão artística também estão sendo desenvolvidas por inteligência artificial: alguns algoritmos conseguem criar poemas “inspirados” em fotos (apesar de que o resultado nem sempre é dos melhores) e se aventurar no mundo da música. Ano passado, a cantora americana Taryn Southern lançou um álbum inteiro produzido por IA. E, em 2016, aqui no Brasil, o Spotify, em parceria com a empresa Kunumi, de Belo Horizonte, e o grupo de rap RZO, lançou uma música nova do rapper Sabotage, morto em 2003. Para isso, alimentou uma rede neural com diversas composições e manuscritos do artista. Com esta base, o algoritmo desenvolveu uma letra inspirada no estilo de Sabotage. A canção, aliás, chama-se “Neural”.


No entanto, estas iniciativas provocaram uma discussão: afinal, quadros, músicas ou outras obras criadas por inteligência artificial podem ser chamados de arte? A resposta é a mais em cima do muro possível: depende. Se avaliados apenas pelo aspecto estético, sim. Porém, se definirmos artes como uma forma de expressão de sentimentos, sensibilidade e personalidade de quem as criam, fica complicado classificar inteligência artificial como artista, pois não existem (pelo menos ainda) algoritmos com essa capacidade.


Seja como for, o Edmond de Belamy irá a leilão em outubro, com preço estimado na casa dos US$10 mil. E você, faria um lance por esta obra?



*Texto publicado no Jornal do Brasil em 29/08/2018

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